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Os segredos da maçã Fuji de São Joaquim: o frio do terroir, o pingo de mel, a crocância e a suculência

O produto apresenta alto grau de adaptabilidade às condições da Região de São Joaquim

Meu prezado leitor ou leitora, o Brasil produz uma maçã com uma Indicação Geográfica (IG), a única que você vai encontrar no mercado: trata-se da Maçã Fuji da Região de São Joaquim que se destaca por suas características únicas de cor, formato e sabor. Produzida a umaelevada altitude da região delimitada pela IG (acima de 1100 metros), encontrou em  Santa Catarina um terroir adequado para valorizar suas diferenciações.

Para você conhecer melhor esta deliciosa história de sucesso, entrevistei Leonice Santos Lages (acima, na foto), gestora das Indicações Geográficas Maçã Fuji da Região de São Joaquim e dos Vinhos de Altitude de Santa Catarina. Pós Graduanda em Marketing e com experiência de mais de 3 anos com Inovação atuando como Agente Local de Inovação do Sebrae, pode acomanhar a evolução de mais de 60 empresas da região. Com a palavra, Leonice.

Rogerio Ruschel – Por favor faça um resumo da história da maçã Fuji da serra catarinense: qual a origem, como se desenvolveu e como e porque se tornou uma IG?

Leonice Santos Lages – A maçã Fuji foi introduzida na região de São Joaquim na década de 1970 a partir de uma política pública de estímulo à produção de frutas de clima temperado. Trazida do Japão e cultivada nas colônias japonesas da região, a maçã Fuji tornou-se um produto econômico de importância central para a economia local. O reconhecimento da qualidade da Maçã Fuji da Região de São Joaquim tornou este nome reconhecido nacionalmente, a ponto de garantir ao município o título de Capital Brasileira da Maçã.

O produto apresenta alto grau de adaptabilidade às condições da Região de São Joaquim, resultando em características diferenciadas na qualidade dos frutos quando comparada às demais regiões produtoras.

A altitude de 1.100 metros determinada para a produção da fruta permite uma ocorrência de pelo menos 700 horas de temperaturas abaixo de 7,2°C no inverno, proporcionando uma boa indução natural da brotação e do florescimento, necessário para o desenvolvimento fisiológico do cultivar. O clima típicamente mais frio da região resulta em ciclo vegetativo mais longo, com floração antecipada e colheita mais tardia, favorecendo um processo de maturação mais prolongado, o que possibilita a colheita dos frutos com maior tamanho e peso. As temperaturas mais baixas nas semanas que antecedem a colheita também favorecem a ocorrência do chamado pingo de mel, um distúrbio fisiológico que deixa o fruto mais doce.

A ocorrência de noites frias no período de quatro a seis semanas que antecede a colheita corresponde à ocorrência de uma amplitude térmica suficiente para a síntese de antocianina, favorecendo a pigmentação com uma coloração vermelha mais intensa da casca, característica das frutas da região, que são mais crocantes e suculentas que as produzidas em outras localidades. A conquista de Indicação Geográfica destaca que a Maçã Fuji produzida na região de São Joaquim é diferenciada das outras produzidas no país, valorizando sua história e características únicas.

Rogerio Ruschel – Qual a importância social, cultural e econômica da Maçã Fuji da Região de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema, Urubici e Painel?

Leonice Santos Lages – A maçã promove e preserva a identidade cultural de todos os municípios que fazem parte do território da IG. São destacadas as tradições, os métodos de produção e o conhecimento local que foram transmitidos através das gerações, e que continuam sendo transmitido. Também estimula a formação de cooperativas e associações que ajudam os pequenos produtores a competir em mercados maiores. Gera novas fontes de renda e oportunidades de emprego em setores de outras cadeias produtivas como hospedagem, gastronomia e serviços turísticos.

Rogerio Ruschel – Qual o papel atual de Sebrae/SC, da AMAP, da Epagri, da UFSC, da Associação dos Municípios da Região Serrana (Amures), da Secretaria estadual da Agricultura e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que foram as entidades mobilizadoras da criação  da IG em 2021?

Leonice Santos Lages – Cada uma dessas entidades desempenha um papel vital na manutenção e promoção da Indicação Geográfica da Maçã Fuji de São Joaquim. Juntas, elas garantem que os produtores locais continuem a prosperar, que a qualidade e as tradições associadas à produção da maçã sejam mantidas, e que a região como um todo se beneficia do reconhecimento da IG. Essa colaboração integrada promove não apenas o desenvolvimento econômico, mas também a coesão social e a valorização cultural da região.

O Sebrae/SC por meio da Regional de Lages continua trabalhando no fortalecimento com consultorias, capacitações para produtores e empresários locais sobre  os benefícios da IG, para melhorar a qualidade dos produtos e inovar em suas práticas. Fornece apoio contínuo em gestão, marketing e desenvolvimento de negócios para os produtores de maçã da região. Ajuda a promover a Maçã Fuji de São Joaquim em eventos locais, nacionais, aumentando sua visibilidade e reputação.

Rogerio Ruschel – Como é feita a gestão da IG atualmente? Qual o papel da Associação dos Produtores de Maçã e Pera de Santa Catarina (AMAP)? (Qual o papel da ACIL?) Outras organizações participam da gestão e do marketing da IG?

Leonice Santos Lages – A AMAP é a principal entidade responsável pela gestão e manutenção da IG da Maçã Fuji da Região de São Joaquim, juntamente com o conselho regulador da IG. A gestão do marketing é terceirizada para uma empresa contratada.

Rogerio Ruschel – Quantos produtores estão associados à IG? Quantos produtores ainda não se associaram? Qual o volume atual da produção de maçãs com IG em relação ao total da produção de maçãs Fuji no Brasil?

Leonice Santos Lages – A produção de Maçã Fuji com IG representa aproximadamente 5,7% da produção total de Maçã Fuji no Brasil. Esta porcentagem indica a importância crescente da Maçã Fuji de São Joaquim no mercado, embora ainda seja uma fração relativamente pequena do total nacional. Os produtores associados às cooperativas e empresas que fazem o uso do selo, somam em torno de 800 a 1000 produtores. 1.500 produtores ainda não são associados.

Rogerio Ruschel – Quais os mercados prioritários da Maçã Fuji da Região de São Joaquim? Quais as regiões do país; qual o perfil dos distribuidores? Existem pesquisas sobre o perfil do consumidor final?

Leonice Santos Lages – Em todos os estados do Brasil a maçã Fuji está presente. A maçã Fuji é distribuída pelos Ceasas, estão nos grandes supermercados, atacadista e varejistas. Não possuimos pesquisa formalizada, mas estamos trabalhando em parceria do IFSC campus de Urupema onde já criamos a pesquisa para ter mais informações.

Rogerio Ruschel – Para o distribuidor (supermercados, varejistas) porque vale a pena ter um produto com Indicação Geográfica como a Maçã Fuji da Região de São Joaquim? Existem depoimentos sobre isso?

Leonice Santos Lages – O mercado não foi bem preparado para receber um produto diferenciado. Não possui depoimentos.

Rogerio Ruschel – O consumidor percebe diferença de sabor entre a Fuji da Serra Catarinense e maçãs Fuji de outras regiões do Brasil e do exterior? Já foi feito algum teste “cego” comparativo de sabor como se faz com vinhos e azeites?

Leonice Santos Lages – Não que eu tenha conhecimento

Rogerio Ruschel – Como o consumidor pode saber mais sobre a Maçã Fuji da Região de São Joaquim? Existe um site, Instagram ou Facebook ou endereço na internet?

Leonice Santos Lages – Através do site www.amapsc.org.br, do Instagram amapsj.sc @macafujisj

Rogerio Ruschel – Como a AMAP tem trabalhado no marketing para divulgar e consolidar o significado da IG? Quais os planos para valorização destes ativos?

Leonice Santos Lages – A Amap possui uma empresa especializada para gerenciamento do marketing. Através da minha consultoria, juntamente com a empresa responsável pelo marketing, traçamos metas e objetivos para fortalecimento e valorização da IG, como placas indicativas dentro do município, projetos de IGs nas escolas, livros infantis, materiais impressos, divulgações nas mídias sociais dos trabalhos sendo executados, eventos, lives, seminários, workshops, concursos e feiras.

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