Hoje eu gostaria de falar sobre cinema. E falar sobre esse assunto parece fácil, é tão corriqueiro para nós. De acesso tão simples. Se ligarmos nossa TV nesse momento, teremos uma infinidade de filmes ao nosso alcance. TV aberta, por assinatura, serviços de streaming. As possibilidades são diversas. Mas meu argumento hoje não é sobre acesso, mas sim sobre construção.
Que elementos constituem um filme e, mais do que isso, quais deles implicam no sucesso deste? O elenco, o roteiro, a direção, a montagem, a trilha sonora, muitos dirão. E não estão errados, pelo contrário. Contudo, é preciso pensar um pouco mais fundo. Percepções que podem não ser óbvias em um primeiro momento, mas que fazem toda a diferença: a localidade.
Se falarmos do filme “007 – Contra Spectre”, por exemplo, do que você se lembra? Para além da voz do cantor britânico Sam Smith, imagino que tenha lhe passado pela cabeça cenas gravadas na Cidade do México, certo?
E nesta mesma linha, podemos pegar diversos exemplos: as cenas em Nova Iorque de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, da capital francesa em “Meia Noite em Paris” e dos arranha-céus de Dubai em “Missão Impossível: Protocolo Fantasma” – só para citar alguns.
Vermos essas cidades, em produções dos mais diversos gêneros, nos desperta curiosidade. Temos acesso à sua apropriação pela obra, mas queremos mais. Desejamos sua história, seus museus, seus pontos turísticos, restaurantes. Podemos ressignificar aquilo que vimos nos filmes. Quantas vezes não fomos apresentados a futuros apocalípticos onde a Estátua da Liberdade era desmantelada? Temos a oportunidade de, não apenas vê-la, mas tocá-la, vivê-la.
Mágico, não?
Tento mostrar aqui a importância que o audiovisual tem na construção do desejo e, consequentemente, na promoção de destinos turísticos.
Vamos analisar outro caso. A série “Game of Thrones” foi um dos maiores sucessos das últimas décadas, quebrando recordes de investimento, audiência e premiações recebidas. Diversas cenas da série foram gravadas na pequena cidade de Dubrovnik, na Croácia. Antes da estreia da produção da HBO, em 2011, a cidade recebia cerca de 400 mil pessoas ao ano. Em 2018, este número superou os 1,3 milhão de turistas.
De maneira um pouco mais modesta, Gramado teve grande exposição durante a exibição da novela “A Vida da Gente”, de 2011, que contou com cenas gravadas na cidade. Mas podemos mais, muito mais. Temos uma natureza rica, intocada, quilômetros de mata, cânions, flora diversa. Nossa arquitetura é um charme à parte, preservando nossas origens. Conseguimos transitar entre o colonial e o contemporâneo.
Somos o berço do mais importante festival de cinema do Brasil, estamos acostumados a receber as mais importantes produções audiovisuais da América Latina. Agora, queremos não apenas exibi-las, mas sediá-las.
Preparem-se para nos ver nas telas. É o começo de um novo momento para Gramado.